“...só que você foi embora cedo
demais..." A música tocava no táxi lotação que acabara de entrar. No
pensamento, imagens de sangue deixadas na calçada por onde passara todos os
dias. Um rapaz havia sido assassinado há poucos momentos. Em meio ao susto
matinal, questionamentos sobre o que é a vida e o valor que ela possui, invadem
sua mente.
Enquanto a música toca, o motorista reproduz o som da bateria no
volante do carro. A moça no banco de trás se maquia. Os carros passam velozes.
Pessoas atravessam às ruas. A vida continua. Choro, dor e lágrimas caberão a
família e amigos daquele que não mais existia (?). Alguém comenta: “Disseram
que ele era envolvido com drogas!”. E a pergunta surge: “Por isso merecia
morrer?”. Outra pessoa exclama: “Ele foi emboscado, tinha apenas 17 anos!”. É,
eram apenas 17 anos. Início de vida ceifado pelas algemas transparentes do
sistema. Mas, o que fazer?
Dias depois, a história que se
conta é que o jovem que havia sido assassinado foi levado ao local pelo próprio
primo. O mesmo que foi com a família reconhecer o corpo e que chorava
copiosamente no enterro. Ele só não contava com as imagens gravadas pelas
câmeras do prédio em que o primo morava. Na prisão confessou o crime. Tinham praticamente a mesma idade, apenas um
ano de diferença que fez a diferença. Estudavam numa das melhores escolas da
cidade. Foram criados como irmãos, mas a dívida referente a compra de drogas
fez nascer a covardia da entrega da vítima aos algozes.
A hora do trabalho está quase atrasada. O dia
será intenso. A música está quase terminando e o trecho acentua a angústia: “...não
é sempre, mas eu sei que você está bem agora...”
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