terça-feira, 18 de junho de 2013

A canção tocou na hora errada em tempos sociais

“...só que você foi embora cedo demais..." A música tocava no táxi lotação que acabara de entrar. No pensamento, imagens de sangue deixadas na calçada por onde passara todos os dias. Um rapaz havia sido assassinado há poucos momentos. Em meio ao susto matinal, questionamentos sobre o que é a vida e o valor que ela possui, invadem sua mente. 
Enquanto a música toca, o motorista reproduz o som da bateria no volante do carro. A moça no banco de trás se maquia. Os carros passam velozes. Pessoas atravessam às ruas. A vida continua. Choro, dor e lágrimas caberão a família e amigos daquele que não mais existia (?). Alguém comenta: “Disseram que ele era envolvido com drogas!”. E a pergunta surge: “Por isso merecia morrer?”. Outra pessoa exclama: “Ele foi emboscado, tinha apenas 17 anos!”. É, eram apenas 17 anos. Início de vida ceifado pelas algemas transparentes do sistema. Mas, o que fazer?
Dias depois, a história que se conta é que o jovem que havia sido assassinado foi levado ao local pelo próprio primo. O mesmo que foi com a família reconhecer o corpo e que chorava copiosamente no enterro. Ele só não contava com as imagens gravadas pelas câmeras do prédio em que o primo morava. Na prisão confessou o crime.  Tinham praticamente a mesma idade, apenas um ano de diferença que fez a diferença. Estudavam numa das melhores escolas da cidade. Foram criados como irmãos, mas a dívida referente a compra de drogas fez nascer a covardia da entrega da vítima aos algozes.
A hora do trabalho está quase atrasada. O dia será intenso. A música está quase terminando e o trecho acentua a angústia: “...não é sempre, mas eu sei que você está bem agora...”

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Paradoxo

E mais uma vez ela estava ali. Cheia de sonhos, perspectivas, ideais, objetivos. Era apaixonada por pessoas, histórias, experiências, mistérios. Sua ânsia fazia com que buscasse a todo custo narrações que contemplassem fatos verídicos ou improváveis. Lembro-me da vez em que conheceu um certo rapaz. Boa conversa, atencioso, bem-humorado. Ela tinha um jeito único de se expressar. Ele, com voz mansa, preenchia todos os seus gostos. 

Duas pessoas, dois mundos distantes ligados por formas de pensamento. Ela apegada a itens pouco válidos. Ele a emoções recém-vividas. A história, composta por personagens fictícios, contempla o enredo de uma novela mexicana. Ela duvida. Ele acredita. Ela é curiosa. Ele discreto. À duras penas aprenderam a conviver com os percalços encontrados pelo meio do caminho. 

Seguir em frente seria a melhor opção. Mas, havia algo que os incomodava. Algo que, de alguma forma, fazia com que não trilhassem a mesma direção. A água e o óleo: mistura pouco provável que só enxerga quem possui a racionalidade própria dos mortais.

Estradas paralelas nunca se cruzam. Verdades absolutas foram impostas e desejos esbarraram em seus maiores medos. Talvez não tenha sido possível encontrar explicação. Jorge de Lima, sábio poeta e escritor escreveu certa feita:


"Lá vem o acendedor de lampiões da rua! 
Este mesmo que vem infatigavelmente, 
Parodiar o sol e associar-se à lua 
Quando a sombra da noite enegrece o poente!"


Ora, ela sabia que mais cedo ou mais tarde veria o resplandecer. Ele buscava a noite. E como o sol e a lua seguiram em direções opostas...

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Parte II

Do caminhão desce um grupo de homens carregando malas e móveis para a casa. Edith fica a espreita tentando observar se Jack está naquele meio. Alguns minutos depois, alguém vem até o portão e lhe pede água. Era Jack, sedutor como sempre.

Os dias passam os novos vizinhos vão se adequando a nova moradia. Edith faz questão de ser prestativa. Como não cozinhavam fizeram um acordo com a mãe de Edith para fazerem as refeições em sua casa. Cada vez mais o casal se aproximava.

Edith só pensava em Jack. Mal sabia ela que havia encontrado seu 1º amor. Aquele que nos deixa marcas que ficarão gravadas na memória e nem tempo, nem outros relacionamentos apagam. Acordava suspirando pela casa. Vivia no mundo da lua. Desejos de uma adolescente por um homem mais velho, experiente.

Alguns meses se passam e Edith vê Jack se envolver com algumas moças da região. O ciúme é intríseco. Ela não consegue esconder. Em seus pensamentos a idéia de tê-lo como namorado a faz viajar sem sair do lugar. Suspiros enchem o ego da adolescente que não sabe como fará para chegar até Jack e declarar seu amor...



segunda-feira, 23 de março de 2009

O reecontro - I

Edith tinha 14 anos quando conheceu Jack, 24 anos. Ela filha de pais separados, morava com a mãe e dois irmãos em João Pessoa. Ele uma andorinha, trabalhava como autônomo e percorria diversas cidades com uma equipe de venda.

A primeira vez que se viram foi numa festa no interior. Edith ficou completamente apaixonada por Jack. Ele sequer a percebeu. Tinham amigos em comum. Ele dançava como ninguém e aquele gingado a deixou atordoada. Os dez anos de diferença faziam com que Jack não prestasse atenção naquela garota que acabara de entrar na puberdade.


Os dias se passaram e Edith voltou para casa. Havia ido passar as férias escolares na casa de amigos. Em sua cabeça a idéia de poder um dia estar com aquele homem a faziam ter planos de construir uma família. Mas como pensar isso sem ao menos saber se iriam se ver novamente?

Sua mãe quis saber o motivo dos suspiros da jovem e ela logo lhe confidenciou:


- Mãe conheci o homem da minha vida!


Talvez Edith pudesse ter razão, mas para sua mãe ela ainda era uma garotinha e não estava preparada para viver um relacionamento amoroso.


- Você ainda é muito jovem Edith e eu não quero saber dessas histórias de namoro. Tens que estudar pra ser alguém melhor que eu, ou você quer viver como eu?


Sua mãe tinha razão. Jack nem a reparou, como poderia um dia vir a se apaixonar por ela?


Alguns meses se passaram e uma bela noite Edith ficou sabendo que a casa vizinha havia sido alugada por um grupo de autônomos da mesma cidade onde conheceu Jack. Logo, procurou saber quem seriam seus novos vizinhos. Para sua supresa, ele chegaria na manhã seguinte.

Qual seria a sua reação? Será que ele lembraria dela? Que concincidência vir morar justamente ao lado de sua casa. Pela manhã escutou a chegada do caminhão de mudança e correu ao portão. Estava anciosa para revê-lo
!

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

The End


Os dias passam e a Ana toma uma decisão mirabolante: iria até o Paraná para olhar nos olhos de Bento e perguntar o porquê de toda aquela mentira. Mas, para isso teria que juntar grana, além de se conter para não falar a história a Bento pelo MSN ou por telefone. Isso levaria tempo, então começou a planejar com ele a viagem.


As datas, horários, passeios a serem feitos. Tudo como haviam pensado um dia, quando ainda acreditava que estava vivendo um sonho. O plano de Ana era simplesmente ir ao Paraná, aproveitar todas as "mordomias" oferecidas por Bento e somente no final da viagem contar que já sabia de toda história.


Por várias vezes ela tentou fazer com que ele mesmo tocasse no assunto e contasse a verdade. Mas ele parecia acreditar na mentira que vivia. Mentira sim, pois alguém que sai do seu Estado, tendo um "suposto" relacionamento, para conhecer alguém, pelo simples fato do desafio, vive uma vida de novela, onde o principal ator é ele.


Os meses passam e chega, enfim, o dia da viagem. Ana está empolgadíssima. Dias antes havia conversado com Laura como executaria o plano. Laura ainda insistiu em saber se amiga tinha certeza do que iria, pois, de uma forma ou de outra, estava arriscando um comportamento de alguém que ela achava conhecer.


No aeroporto Bento a espera com um sorriso ímpar. Já Ana o saúda com um sorriso Monalisa. Ele não entende, mas a abraça com toda sua força e sussurra: quanta saudade! Durante o percurso para a sua instalação Ana pergunta o que ele fez para ser dispensado no trabalho por cinco dias.


Em sua cabeça ela imaginava, qual desculpa ele inventou à Simone para não vê-la durante esses dias? E o pior, como ela acreditou? Ela deveria ser muito cega! Isso sim, bastante cega. Como não desconfiava dele? Ou melhor, como confiava nele? Ah, ela nem podia reclamar, afinal tinha acreditado em suas palavras por 3 meses.


Depois desses questionamentos, por questões de segundos Ana pensou em desistir e falar logo a verdade a Bento enquanto seguiam para o hotel. Mas o pensamento em todo o esforço feito nesses três meses para ser uma boa "atriz" não poderia acabar em apenas 1h. Tinha que lhe render, ao menos, satisfação em conhecer Curitiba.


Jardim Botânico, Ópera de Arame, Rua 24 horas, Parque Tanguá, Palácio Avenida, Museu Oscar Niemeyer, Rua das Flores, Santa Felicidade são os vários pontos que conheceu nesse dia. A noite foi a uma boate. Tudo, novamente, parecia perfeito. A conversa, o carinho, as ações, palavras... ai as palavras.


Jantar a luz de velas, num belo restaurante. Vinho da melhor safra. Um sonho que logo, logo acabaria. Os dias passam e cada vez mais Bento a surpreende com gentilezas, presentes, dengos. Ana chega até a não acreditar que aquilo tudo seria uma interpretação. Afinal, seu objetivo era desmascará-lo.


Depois de voltarem de uma pequena viagem a uma cidade vizinha de Curitiba, Ana está arrumando suas malas. Os cinco dias passaram que ela nem sentiu. O que tinha como recordação eram as fotos tiradas por todos os lugares que eles passaram. O avião partiria em algumas horas e estava chegando o momento de conversar com Bento.


- Bento, você pode sentar um pouco aqui ao meu lado? - Perguntou Ana.


- Sim, princesa. - Disse ele contente.


- Precisamos conversar. Lembra que um dia, quando eu ainda estava em Maceió, você me perguntou porquê eu estava agindo diferente com você?


- Claro que lembro. Até pensei que estivesses com alguém...


- Pois é, no dia eu respondi que não estava. Mas acredito que você tenha percebido algumas mudanças mesmo. É que realmente mudei. Você não imagina porquê? - Disse ela, mais uma vez dando chance para Bento contasse a verdade. Mas, mais uma vez ele continuou a farsa.

- Não faço a mínima idéia. Mulheres sempre têm algum mistério. Mas me conte o que houve princesa. - Substimou Bento toda a inteligência de Ana.


- É Bento, temos mistérios sim, mas nosso maior defeito é não conseguir mentir por muito tempo. Qualidade esta que pertence aos homens, principalmente homens como você.


Na fisionomia uma ligeira mudança. Nas mãos o suor...


- Do que você está falando Ana?


- Da Simone, você a conhece?

Ele emudeceu. Sabia que não tinha como mentir mais. Baixou a cabeça e passou a ouvir tudo o que Ana foi disposta a lhe dizer. Abria a boca apenas para responder o que ela lhe perguntava e muitas vezes, somente um sim ou não. Bento jamais imaginava que Ana seria capaz de estar ali para devolver e lhe aplicar a maior surra moral que alguém pudesse lhe dar.


Bento acreditou que pudesse manter o teatro sem que Ana descobrisse o final antes da peça acabar. Triste engano. As lágrimas caem por seu rosto. Uma vergonha de si, de suas atitudes, da forma como agiu com Ana e com Simone. E agora? O que fazer? Ficar calado? Pedir perdão? Talvez no fundo acreditasse que esses cinco dias seriam os últimos com Ana. Mas uma afirmação no aeroporto o deixou encucado:


- Nossas fotos ficaram lindas e tenho certeza que Simone adorará vê-las...

___________________ The End ________________

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Parte V

A noite é curta para Ana... Ela vira a madrugada buscando informações sobre a descoberta. O traço de decepção é perceptível. As lágrimas teimam em descer. Ela não sente sono, fome, vontade de viver. Na realidade todo castelo de sonhos construído nesses três meses desmoronaram.

Ao amanhecer ela não consegue ir ao trabalho. Sem forças, não sabe o que fazer. Na cabeça a lembrança de uma amiga. Precisava conversar com alguém. Contar o que aconteceu, como tudo aconteceu. Foi isso que ela fez, ligou para Laura e pediu que a encontrasse na praia.


Ao encontrar a amiga Ana conta tudo o que descobriu.


-Laura, Bento é comprometido. Descobri com quem, há quanto tempo, onde mora e o que faz. Tudo o que me falou era mentira. Todas as promessas, choros, planos eram vazios. Ele me enganou. Fez-me acreditar que tudo podia ser diferente. Que ele era um homem especial, único...


As lágrimas a acompanham por toda a narrativa. Laura também não consegue acreditar que Bento fosse tão covarde, ao ponto de vir a Maceió, se hospedar na casa de Ana, ficar com ela, fazer planos de vir morar aqui ou que ela fosse para lá e sequer se preocupou com os verdadeiros sentimentos de Ana e de Simone (este era o nome dela).


Ao mesmo tempo, sentimentos se confundiam na cabeça de Ana. Ódio e amor nunca estiveram tão próximos. Como ele foi tão ator? Como conseguiu levar essa história por três meses. De repente as situações foram se encaixando. A história das fotos na net, história da viagem de "trabalho". Tudo, tudo o que Bento lhe falou foram de água abaixo.


Neste momento a idéia é ligar pra ele e contar tudo o que sabia. Num segundo momento, mais calma e seguindo os conselhos da amiga, resolve pensar melhor qual seria a atitude mais sensata a ser tomada. Laura havia respeitado toda mágoa descrita por Ana, mas acreditava que a melhor saída seria aguardar o melhor momento para dar o troco na mesma moeda.


Durante alguns dias Ana evita entrar no msn e quando entra não utiliza a webcam. Ela não tem anseio de ver Bento. As conversas se tornam banais. Ela também não tem vontade de responder as suas perguntas. A dor é indescritível, mas o pensamento em dar o troco é bem mais forte do que ela imagina...

Parte IV

Certa noite ao conversar com ele, Ana conhece Olga, mãe de Bento. Senhora muito simpática e super interessada em saber quem é a "famosa" Ana de Maceió. A conversa é pela webcam. Com empolgação Ana diz que irá ao Paraná conhecê-la pessoalmente. Olga diz que será um prazer tê-la em sua casa.


No trabalho o pensamento está em Bento. Em casa as marcas são de Bento. Com os amigos a conversa é sobre Bento. Em seu corpo o odor é de Bento. Na internet a procura é sobre os assuntos de interesse de Bento. O aniversário dele está próximo e Ana se lamenta em não poder estar ao lado do seu amado.


Para impressionar envia um presente pelo Correio: uma foto num porta-retrato tirada em um dos momentos mágicos em Maceió e uma camisa como recordação do sotaque nordestino. A ansiedade em saber o que Bento achou do presente aumenta e ela não vê a hora de conversarem a noite.


Mas a dúvida persiste: e aquela moça? Ao fuçar novamente o perfil do amigo de Bento, Ana descobre uma amiga da moça nas marcações das fotos. Ao visitar o perfil desta amiga descobre que a mulher que aparece nas fotos ao lado de Bento também tem perfil no site de relacionamento.


Quando ia bisbilhotá-lo Bento entra na net e a curiosidade de saber o sentimento com relação ao presente é maior e Ana deixa para mais tarde o compromisso de levantar quem ela seria. Bento se emociona ao se referir ao presente que Ana enviou. Diz que a foto vai preencher a cômoda que fica em frente a sua cama, para que todos os dias ao acordar possa ver o quanto foi feliz naqueles dias.

A conversa dura um longe tempo, mas Bento está cansado e diz que vai dormir. Enquanto isso Ana resolve ver o perfil da misteriosa mulher e tem uma descoberta que não imaginava acontecer...